Profa.
Dra. Lilian Cristina Monteiro França
Pós-Doutora
em História da Arte/UNICAMP
Universidade
Federal de Sergipe
Membro
da ABCA e da AICA
Se os anos recebessem nomes, como as ruas, este deveria se
chamar Basquiat.
Em que pese a incrível ascensão da China no mercado
internacional de leilões de arte contemporânea, que assumiu entre 2006 e 2008 o
terceiro lugar e em 2009 o primeiro em volume de vendas (durante uma crise
financeira mundial capitaneada pelo Lehman
Brothers); em que pese 209 dos 500
Top Artists ranqueados pela Artprice
terem nascido na China; em que pese a queda do volume de vendas em mais de 200
milhões de euros com relação ao ano passado; o sangue latino do americano
nascido no Brooklin, Jean-Michel Basquiat, recuperou o posto de primeiro
colocado para os Estados Unidos e deixou marcadas 34 das 72 páginas do anuário Contemporary Art Market-2013.
Não o poderia ter previsto René Ricard quando em 1981
publicava nas páginas da ARTFORUM o
memórável "The Radiant Child" e perguntava "How did he come up
with the words he puts all over everything?" Mas Ricard escreveu, visionariamente
talvez, que as obras que via lembravam um certo tipo de "Chinese
literati-type"...
"New Art New Money", o título da matéria escrita
por Cathleen Mcguigan em
1985 para a matéria de capa da revista do The
New York Times fazia menção a reestruturação de um mercado de arte que,
segundo a autora, passava de "frio e cerebral" para "volátil e
passional". Naquele momento as obras de Basquiat eram vendidas por 10, 25
ou 50 mil dólares e já representavam valores muito altos para uma geração de
artistas emergentes.
Os
novos contornos conferidos por Basquiat à técnica do grafite deixaram as paredes do So-Ho novaiorquino para
estampar os principais catálogos de leilões de arte contemporânea duas décadas
mais tarde. No primeiro semestre de 2013 foram leiloados pela Christie´s 82 lotes com obras de Basquiat, todos
vendidos, arrecadando mais de 162 milhões de euros, quase um terço do volume total
de vendas dos leilões realizados nos Estados Unidos. "Dustheads" (1982)
foi arrematada por 48.8 milhões de dólares.
Em outros leilões os resultados foram
igualmente impressionantes: "Untitled - Yellow Tar and Feathers"
(1982) foi vendido por 25.9 milhões de dólares para Lary Gagosian (Sotheby´s, novembro de 2013).
Os resultados
surpreenderiam o artista, talvez não, talvez ele dissesse "It’s about 80%
anger". Mas raiva não é, decididamente, uma palavra que combine com a performance
de Basquiat em 2013.
Sociólogos da Arte, como Raymonde
Moulin e Alain Quemin, sinalizam para a ascensão da arte contemporânea,
provocada pela estabilização dos mercados de "clássicos" e
"modernos", alavancada pela especulação financeira e cada vez mais
controlada por uma rede internacional de marchands, galerias, instituições que
atuam sobretudo em feiras e leilões, mas também em bienais, exposições e
eventos artísticos, lançando mão de um forte aparato midiático para promover
artistas e grupos.
É interessante perceber que o movimento em torno do nome de
Basquiat intensificou-se a partir de 2012. Em junho do ano passado a Gagosian londrina abriu a exposição
"Jean-Michel Basquiat and Andy Warhol - Olympic Rings" para coincidir
com os Summer
Olympic Games que aconteciam em Londres.
Em fevereiro de 2013 a Galeria Gagosian de em Nova Iorque abriu
a exposição "Jean-Michel Basquiat", reunindo 50 de suas obras, foi
considerada a maior exposição do artista, recebeu cerca de três mil visitantes
por dia e estruturou-se nos moldes de uma "exposição blockbuster".
Em maio de 2013 a Gagosian levou a exposição para Hong Kong. Foi a primeira exposição de Basquiat em Hong Kong,
atraindo a atenção do forte mercado asiático de arte contemporânea.
No mesmo período (maio de 2013) a Sotheby´s abriu "Man Made -Jean-Michel
Basquiat", apresentando cerca de trinta obras que seriam leiloadas ao
longo do ano.
Estava criado o ambiente midiático para a
realização dos grandes leilões de obras de Basquiat. O realizado pela Christie´s ("The 11th
Hour Auction") no dia 13 de maio de 2013
foi inesquecível, elevando os preços de "um basquiat" para
patamares surpreendentes; o da Sotheby´s,
em novembro, não ficou atrás.
A vasta produção de Basquiat ajuda a
aquecer esse mercado, afinal, em 27 anos de vida (8 de carreira) ele produziu:
mais de mil pinturas e mil desenhos (dados do site da Christie´s). O mercado de arte está agitado e não é difícl que
novos recordes venham a ser quebrados pelo artista, afinal, como ele mesmo
disse: “I thought I was going to be a bum the rest of my life”.
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