sábado, 21 de dezembro de 2013

Um ano chamado Basquiat





Profa. Dra. Lilian Cristina Monteiro França
Pós-Doutora em História da Arte/UNICAMP
Universidade Federal de Sergipe
Membro da ABCA e da AICA



          Se os anos recebessem nomes, como as ruas, este deveria se chamar Basquiat.
          Em que pese a incrível ascensão da China no mercado internacional de leilões de arte contemporânea, que assumiu entre 2006 e 2008 o terceiro lugar e em 2009 o primeiro em volume de vendas (durante uma crise financeira mundial capitaneada pelo Lehman Brothers); em que pese 209 dos 500 Top Artists ranqueados pela Artprice terem nascido na China; em que pese a queda do volume de vendas em mais de 200 milhões de euros com relação ao ano passado; o sangue latino do americano nascido no Brooklin, Jean-Michel Basquiat, recuperou o posto de primeiro colocado para os Estados Unidos e deixou marcadas 34 das 72 páginas do anuário Contemporary Art Market-2013.
          Não o poderia ter previsto René Ricard quando em 1981 publicava nas páginas da ARTFORUM o memórável "The Radiant Child" e perguntava "How did he come up with the words he puts all over everything?" Mas Ricard escreveu, visionariamente talvez, que as obras que via lembravam um certo tipo de "Chinese literati-type"...
          "New Art New Money", o título da matéria escrita por Cathleen Mcguigan  em 1985 para a matéria de capa da revista do The New York Times fazia menção a reestruturação de um mercado de arte que, segundo a autora, passava de "frio e cerebral" para "volátil e passional". Naquele momento as obras de Basquiat eram vendidas por 10, 25 ou 50 mil dólares e já representavam valores muito altos para uma geração de artistas emergentes.
           Os novos contornos conferidos por Basquiat à técnica do grafite  deixaram as paredes do So-Ho novaiorquino para estampar os principais catálogos de leilões de arte contemporânea duas décadas mais tarde. No primeiro semestre de 2013 foram leiloados pela Christie´s  82 lotes com obras de Basquiat, todos vendidos, arrecadando mais de 162 milhões de euros, quase um terço do volume total de vendas dos leilões realizados nos Estados Unidos. "Dustheads" (1982) foi arrematada por 48.8 milhões de dólares.
          Em outros leilões os resultados foram igualmente impressionantes: "Untitled - Yellow Tar and Feathers" (1982) foi vendido por 25.9 milhões de dólares para Lary Gagosian (Sotheby´s, novembro de 2013).
          Os resultados surpreenderiam o artista, talvez não, talvez ele dissesse "It’s about 80% anger". Mas raiva não é, decididamente, uma palavra que combine com a performance de Basquiat em 2013.
          Sociólogos da Arte, como Raymonde Moulin e Alain Quemin, sinalizam para a ascensão da arte contemporânea, provocada pela estabilização dos mercados de "clássicos" e "modernos", alavancada pela especulação financeira e cada vez mais controlada por uma rede internacional de marchands, galerias, instituições que atuam sobretudo em feiras e leilões, mas também em bienais, exposições e eventos artísticos, lançando mão de um forte aparato midiático para promover artistas e grupos.
          É interessante perceber que o movimento em torno do nome de Basquiat intensificou-se a partir de 2012. Em junho do ano passado a Gagosian londrina abriu a exposição "Jean-Michel Basquiat and Andy Warhol - Olympic Rings" para coincidir com os Summer Olympic Games que aconteciam em Londres.
Em fevereiro de 2013 a Galeria Gagosian de em Nova Iorque abriu a exposição "Jean-Michel Basquiat", reunindo 50 de suas obras, foi considerada a maior exposição do artista, recebeu cerca de três mil visitantes por dia e estruturou-se nos moldes de uma "exposição blockbuster".
          Em maio de 2013 a Gagosian levou a exposição para Hong Kong. Foi a  primeira exposição de Basquiat em Hong Kong, atraindo a atenção do forte mercado asiático de arte contemporânea.
          No mesmo período (maio de 2013) a Sotheby´s  abriu "Man Made -Jean-Michel Basquiat", apresentando cerca de trinta obras que seriam leiloadas ao longo do ano.
          Estava criado o ambiente midiático para a realização dos grandes leilões de obras de Basquiat. O  realizado pela Christie´s  ("The 11th Hour Auction") no dia 13 de maio de 2013  foi inesquecível, elevando os preços de "um basquiat" para patamares surpreendentes; o da Sotheby´s, em novembro, não ficou atrás.
          A vasta produção de Basquiat ajuda a aquecer esse mercado, afinal, em 27 anos de vida (8 de carreira) ele produziu: mais de mil pinturas e mil desenhos (dados do site da Christie´s). O mercado de arte está agitado e não é difícl que novos recordes venham a ser quebrados pelo artista, afinal, como ele mesmo disse: “I thought I was going to be a bum the rest of my life”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário